Solução que se apoia na tecnologia para oferecer economia e segurança tem vantagens e desvantagens para os condomínios

Poucos anos atrás seria impensável discutir alguns dos assuntos que pautam atualmente o dia a dia dos condomínios – isso vale especialmente quando o tema é segurança. Pois uma solução nessa tangente – e que já é uma realidade consolidada lá fora – começa a ganhar terreno também por aqui: a portaria remota. Com a promessa de um controle rigoroso de acesso e redução de custos para o edifício, ela vem chamando a atenção dos síndicos e levantando questões pertinentes no curto e longo prazo. Afinal, o investimento vale a pena?

Antes de qualquer coisa, é preciso entender como a portaria remota funciona. Dispensando a necessidade de um porteiro presente, a solução tem seu pilar na tecnologia. Ela promove a automação e a gestão dos processos e acessos do condomínio remotamente, o que é feito após uma análise do que o edifício já tem e onde precisa se adaptar para receber a novidade. Quem explica é Walter Uvo, Diretor de Operações da empresa minhaportaria.com, que destaca a segurança como o principal ganho pós-implantação. “Uma vez automatizados, os processos precisam ser seguidos, e com isso perde-se o fator da vulnerabilidade humana”, garante.

Como uma central 24 horas à disposição, o condomínio passa a não ter justamente o fator humano na sua rotina, o que pode incomodar os condôminos. E esse é um dos pontos mais sensíveis e polêmicos da questão: deixar os porteiros sem espaço no mercado. A realidade, no entanto, aponta para uma transformação gradativa da profissão.

Uma pesquisa realizada no ano passado pela Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese) revela que 34,5% das empresas que trabalham com portaria remota requalificam os porteiros para outras áreas, gerando novas oportunidades. Quem costuma ficar na linha de frente passa então a atuar nas áreas de atendimento, como assistentes de manutenção, operadores remotos, seguranças, ou mesmo em portarias híbridas, que combinam a presença de um porteiro com um sistema de monitoramento à distância.

Esse cenário, inclusive, costuma ser bem comum, especialmente durante o período de adaptação do condomínio à novidade, ou mesmo como um apoio nos horários de maior movimento no edifício. Ainda assim, a promessa de economia é tentadora para qualquer síndico.

E é uma baita economia. Walter Uvo diz que a redução de gastos pode variar entre 50% e 70%, o que gera um impacto financeiro positivo no caixa que é refletido na taxa condominial. “Com isso, se reduz também a inadimplência, já que o custo com mão de obra passa a ser menor”, afirma.

Mas antes de se chegar a esse patamar, é preciso contabilizar o investimento necessário para se implementar o sistema. O projeto médio de portaria remota varia entre 30 e 50 mil reais, e um fluxo de pagamento desse valor é desenhado para que o condomínio o quite num período que vai de 5 meses a um ano, sem que isso impacte o bolso dos condôminos. De acordo com Uvo, a própria economia que a ferramenta gera já ajuda nesse sentido.

Primeiro, é claro, a mudança precisa ser aprovada em assembleia por maioria simples, e o condomínio deve ser avaliado para se determinar quais adaptações precisam ser feitas para receber as ferramentas da portaria virtual – como a instalação de no breaks e de uma rede de wi-fi.

Segundo Uvo, a portaria remota é indicada para qualquer condomínio, mas o sistema se encaixa melhor na rotina de edifícios menores, com menos gente. Edifícios com muitas unidades são mais complicados de monitorar sem um porteiro presente, e a segurança pode acabar sofrendo caso a adaptação não seja completa. O especialista defende que condomínios com até 60 unidades percebem melhor o benefício da ferramenta.

Se o sistema traz mais segurança e menos gastos para o condomínio, tem também suas desvantagens – afinal, nada é perfeito. Por se apoiar na tecnologia, a portaria remota está sujeita a falhas técnicas, causadas até mesmo por eventuais faltas de energia. Falhas, no entanto, também ocorrem quando há um porteiro presencial, então o ideal é que seja feita uma pesquisa entre as empresas disponíveis no mercado e suas reputações antes de adotar a solução.

A adaptação da rotina do edifício à ferramenta é outra pedra no caminho, e a portaria virtual costuma encontrar resistência principalmente nos condomínios onde a maioria dos condôminos já é mais velha. Por isso o envolvimento de todos na tomada de decisão é fundamental – ao passo que o sistema pode ser ideal para alguns prédios, em outros a redução de custos pode não ser motivo suficiente para adotá-lo.

Outro ponto que merece atenção é a entrega de encomendas. Sem um porteiro, é preciso que o morador esteja em casa para receber entregas destinadas a ele. Há edifícios que ampliam o investimento para incluir a instalação de armários eletrônicos para cada unidade, onde pacotes podem ser depositados mesmo quando não há ninguém disponível para recebê-los – a solução é bastante comum nos Estados Unidos, por exemplo, onde raramente há um porteiro nas portarias.

Walter Uvo estima que ao menos 70% dos condomínios do Brasil terão uma experiência com portaria remota nos próximos cinco anos. O projeto envolve cinco pilares tecnológicos – CFTV, central de alarmes, interfones, controle de portões e alarme perimetral – que têm que funcionar de forma integrada e transparente para todos os usuários, para que isso não interfira no seu dia a dia. “Todos têm que funcionar 100% do tempo, pois a central opera 24 horas por dia”, diz Uvo.

Cabe a cada síndico avaliar a realidade do seu condomínio antes de levar o assunto à pauta da assembleia. Com o mercado e as tecnologias em franca ascensão, a expectativa é que as portarias remotas tenham chegado para ficar.

Matéria originalmente publicada na edição nº 30 (março/abril 2020) da Revista Atitude, que pode ser conferida na íntegra aqui.